domingo, 27 de dezembro de 2009

No ponto de ônibus

Estava sentada em um banco do terminal urbano de ônibus, era uma noite de sábado, e eu esperava um amigo que não via há quase três anos. Tínhamos marcado o encontro em determinado local do terminal, porém eu havia chegado cedo e decidi sentar-me para esperar.
Então um homem de estatura baixa, cabelos curtos, aparentando ter entre 40 e 50 anos se aproximou do banco e sentou-se ao meu lado, o que é bem comum em um lugar como esses.
Um ônibus parou, passageiros desembarcaram e outros embarcaram, e o homem ficou sentado olhando para mim até o ônibus partir. Outro ônibus chegou, mais passageiros desembarcaram e outros embarcaram, o homem fez o mesmo de encarar-me até o ônibus fechar as portas e me perguntou:
- Não era o seu ônibus?
A principio achei a pergunta estranha, porque aquele homem se interessaria em qual ônibus eu iria ou não embarcar? Mas por educação retirei os fones do ouvido e respondi que não estava ali esperando um ônibus e sim um amigo.
O homem parou o olhar no horizonte, um olhar vago, como se estivesse lembrando de algo, e algo talvez triste. E eu, como sou uma pessoa exageradamente comunicativa, decidi continuar o diálogo:
- E o senhor, espera qual ônibus?
Ele demorou alguns segundos para então retirar o olhar de um ponto fixo no horizonte, abaixou a cabeça e sinalizou com a mão, falando o nome do bairro e mostrando a direção. Somente assenti com a cabeça, e dei uma olhada para o local que havia combinado com o Marcelo, para ver se ele já não havia chegado, e no momento em que virei a cabeça para frente novamente, percebi que o senhor ao meu lado tinha voltado àquele olhar longe e triste, e mexia as mãos aparentando nervoso. Acreditei que o dialogo havia se encerrado, comecei a procurar uma música interessante no celular, e quando ia colocar os fones ouvi a voz do senhor novamente:
- Sabe, agradeça a Deus que você tem amigos! E conserve os seus amigos - enquanto falava estava cabisbaixo e os olhos marejados de lágrimas - Veja eu, um homem um pouco velho, sozinho, moro sozinho, não tenho mulher e nunca tive filhos, não tenho quem converse comigo, quem me faça companhia, quem me ajude. Então seja feliz com seus amigos, e depois quem sabe uma pessoa especial, pra casar e ter seus filhos, tudo no seu tempo, não deixe de aproveitar enquanto é jovem não. Hoje os amigos que eu tinha nem lembram de mim, e eu não quis aproveitar. Tentei ser feliz com uma mulher, mas não deu certo, e eu "tô" aqui hoje, sem nada e ninguém.
Eu ouvi atentamente tudo o que ele dizia, e em algumas vezes até refletia sobre os meus amigos, o valor que eles tem em minha vida, o quanto eu demonstro isso para eles, e o quão grande é o meu medo de ficar sozinha. Só que eu não sabia responder nada ao homem, e no que olhei para trás o meu amigo já estava a minha espera e eu não podia deixa-lo la. Pensei na sorte enorme que eu tinha, depois de três anos conseguir rever o Marcelo, que a principio poderia eu não ter notado tamanha importancia disso na minha vida, mas que depois percebi o valor enorme que ele realmente tinha, e como eu tambem adoraria poder rever varios amigos de longas datas.
Me despedi do senhor, desejei-lhe tudo de bom e até agradeci. Senti-me inútil por não achar palavras para conforta-lo, mas ao mesmo tempo acredito que eu fui muito util, porque muitas pessoas não seriam capazes de ao menos retirar os fones do ouvido e tentar continuar um diálogo!

Um comentário:

  1. Vc ja foii util ouvindo o desabafoo dakele SR...Nao gostaria de chegar na msma situação q ele nao!...Mass ain...q fods mano!...Sem palavras! *-*

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