terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tragédia na virada de ano

As pessoas, em sua maioria, vestiam roupas brancas, os pés descalços na areia e levavam em suas mãos garrafas ou taças para brindar o novo ano. No céu os fogos iluminavam tudo, hora todos coloridos e belos, hora apenas fazendo barulho. As crianças corriam até a água, molhavam os pés, jogavam água umas nas outras e os pais apenas observavam a brincadeira, tudo era válido naquele dia, o ultimo dia do ano.
Ele caminhava na beirada do mar, sentindo a água fria cobrir os seus pés descalços, mas não descalços porque assim ele queria, e sim porque não tinha nada para calçar. A camiseta antes era branca, agora já se encontrava rasgada e suja, a bermuda também no mesmo estado. Admirava toda aquela festa e aquela alegria, sorria pela felicidade que estava a sua volta e não pela sua própria, porque não tinha ele motivos para ser feliz. Era apenas mais um ano difícil que encerrava-se, e outro igual, ou pior, que iria começar.
Pablo tinha 6 anos quando seus pais decidiram tentar a vida no litoral, como vendedores ambulantes, porém não deram muita sorte. O pai de Pablo era alcoólatra e no segundo ano que estavam lá arrumou confusão em um bar e foi morto a facadas. A mãe, desde então, começou a prostituir-se para sustentar o garoto e suas duas irmãs, e após alguns meses começou a enfraquecer, perdia peso muito rápido, estava com o vírus HIV, e exatamente um ano e dois meses após a morte do pai, Pablo perdeu a mãe.
As três crianças passaram a viver na rua, mendigavam, cuidavam de carros para ganhar alguns trocados, e ano após ano a realidade delas não mudava. As vezes eram tentados a cometer furtos, a entrar no mundo do crime, mas não era isso que eles queriam.
Em uma noite que comemoravam a virada de ano na areia da praia, quando Pablo já tinha 12 anos, a sua irmã mais nova, Pamela, com apenas 8 anos, foi atingida por fogos de artificio e perdeu a visão do olho esquerdo e na mesma noite, a irmã mais velha, Poliana, desapareceu.
Ele acreditava que nesse ano que iria começar não teria como ser pior, tudo de ruim que seria possivel acontecer, havia acontecido em anos anteriores. Sentou-se em uma pedra para observar toda a festança, as familias unidas, os sorrisos, a esperança no olhar de cada pessoa, as promessas, os objetivos.
De repente a multidão começou a mexer-se rapidamente, as pessoas gritavam, corriam, e o barulho dos fogos misturava-se a barulho de tiros. Pablo correu, mas não no sentido que a multidão corria, e sim na direção do barulho. Viu uma garotinha caindo no chão e chorando e ninguém parava para ajuda-la, ele lembrou de Pamela e foi socorrer a menina. Levantou-a do chão e então sentiu algo atingindo suas costas, perdeu o ar momentaneamente e tudo pareceu girar, a garota colocou as mãos sobre o seu rosto:
- Garotinho, você está bem?
Ele levou a mão as costas e sentiu o sangue escorrendo, e para não assustar a criança deu um sorriso forçado e disse
- Corra, eu preciso ajudar outras pessoas também.
Ela deu-lhe um beijo na testa, agradeceu e saiu correndo pela areia a procura dos pais, enquanto Pablo conseguiu dar apenas mais dois passos e caiu morto na areia.
Ele tinha razão, o novo ano não iria ser pior, porque ele nem chegou a vivencia-lo.

2 comentários:

  1. que triste... MUITO triste...

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  2. Adoro coisa tristes^^Marii meus parabens que texto(procurando uma palavra para definir o quão eu estou pasmo com sua habilidade de escrita^^)F-O-D-A!!!!olha eu leio seu blog a pouco tempo kais posso afirmar que esse é um dos seus melhores textos^^

    Bjão se cuida^^

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