quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Superação dos medos...

O céu estava estrelado, o vento ajudava a amenizar o calor, ela estava parada na rodoviária e segurava uma pequena mala em uma das mãos enquanto observava o movimento. O relógio marcava 22horas e 10 minutos, e era domingo, então muitas pessoas chegavam de seus passeios e viagens de final de semana, enquanto outros esperavam para ir embora. Por tanto ela não se encaixava em nenhum desses casos, e sabia que assim que entrasse no ônibus, a sua vida mudaria, e isso a deixava insegura.
Tinha como acompanhantes na rodoviária os seus pais, embora somente sua mãe seguiria viagem com ela. E as vezes olhava-os imaginando como seria quando ela chegasse na rodoviária e tivesse que se despedir deles, seguir viagem sozinha, o que não estava longe de acontecer.
Um ônibus encostou na plataforma, as pessoas formavam a fila, ela virou-se e abraçou seu pai e juntamente com a sua mãe seguiu para a fila em frente a porta do ônibus.
Lá dentro tudo estava escuro e silencioso, as pessoas que vinham das outras rodoviárias dormiam nas suas poltronas ou apenas colaboravam com o sono das outras mantendo-se em silêncio. Ela chegou na poltrona destinada a ela e à mãe, arrumou a bolsa, o travesseiro e sentou-se. Pegou o celular e os fones de ouvido e decidiu ouvir uma música para quebrar aquele silêncio todo, que deixava-a mais angustiada. Começou a procurar uma boa música na lista do seu aparelho e quase todas elas lembravam um amigo, um amor ou um familiar, e isso parecia triste, porque em breve só teria essas músicas para aproxima-la um pouco das pessoas queridas.
Então decidiu reproduzir todas aleatoriamente, encostou a cabeça no banco, e começou a observar o movimento da rodoviária pelo vidro do ônibus, até ele partir, e ela começar a observar as rodovias, os carros, e os outros itens que a pouca luminosidade da noite permitia que ela enxergasse.
O que ela adoraria era não estar tão medrosa, queria relaxar e se acalmar. E então pensando em mudança de vida ela lembrou-se do mês de janeiro do ano anterior.
JANEIRO 2009
O sol estava brilhante no céu, aquecia a areia e os turistas que estavam na praia, que procuravam uma sombra para esconderem-se ou iam para a água do mar a fim de refrescarem-se.
Ela brincava na água com suas três primas. Pulavam as ondas, bebiam muita água do mar quando a onda era forte, riam, nadavam. Era férias de verão e ela tinha que aproveitar, afinal ia á praia apenas uma vez ao ano.
Só que tantas brincadeiras e horas na água deu-lhe fome e ela decidiu ir para onde estava o pessoal da familia e comer algo. Assim que colocou o pé na areia percebeu a sua alta temperatura e decidiu sair correndo para não se queimar, e assim chegou ofegante sob a sombra do guarda-sol.
Lá ela secou-se e sentou em uma cadeira de praia, abriu um suco de morango e pegou um pacote de batatas que havia trazido do apartamento e começou a comer. Após sentir-se saciada, ela estendeu a toalha na areia e decidiu descansar um pouco, só que aí começou o que viria a ser um inferno em sua vida.
Sentiu tontura e ânsia, a nuca começou a doer e parecia que não era capaz de aguentar o peso da cabeça, sentia que o coração não batia normalmente e levou a mão até o pulso, onde conseguia sentir o pulsar do coração tranquilo e normal, e mesmo que estivesse respirando, sentia como se o ar não chegasse aos pulmões.
Será que ela iria morrer? Estava tendo uma parada cardíaca? Uma ambulância ou resgate chegariam a tempo para salvá-la? O hospital não era muito longe, ou era? Pensamentos assim começaram a tomar conta de sua cabeça, e isso parecia fazer tudo piorar.
Levantou rapidamente da areia e lavou o rosto e a nuca, e disse que não estava sentindo-se bem. Decidiu andar um pouco, só que por perto da família, tomou água, sentou-se, e parecia que o coração não batia mais. As tias perguntavam se ela queria voltar ao apartamento, porém não queria estragar o passeio da família e ficou sentada na cadeira de praia, não tirando a mão de seu pulso, como se a qualquer momento fosse sentir o coração realmente parar.
Passou a tarde toda naquele estado, não quis mais entrar na água, não queria andar e muito menos comer, qualquer coisa poderia forçar seu coração ou seus pulmões, e ela não podia arriscar.
Quando chegaram no apartamento no final da noite ela sentiu-se mais aliviada, tomou um banho para tirar todo o sal e a areia do corpo, colocou uma roupa fresca e sentou na varanda para tomar um ar. Começou a observar a rua: Será que lá estariam mais perto de um hospital para que o socorro chegasse mais rápido? E mesmo que não quisesse esses tipos de pensamentos, eles insistiam em dominar a sua mente, fazendo com que os pulmões fossem pequenos demais e o coração fosse parar. E agora mais uma coisa a incomodava, sua vista estava estranha, parecia que estava embaçada, poderia ser por causa da areia da praia, embora não acreditasse que fosse.
E assim passou os outros dois dias na praia, as vezes desligando-se por um momento de tudo, como se fosse desmaiar, levando a mão constantemente no pulso ou ao peito, esfregando os olhos para se livrar da vista embaçada, e esforçando-se para respirar e para comer.
Enfim chegou o dia de ir embora, um tremendo alívio para ela, chegaria em casa, veria os pais, sabia que se passasse mal por lá teria quem a socorresse, teria hospital, ambulância, corpo de bombeiros, mas não imaginava que a viagem de volta lhe deixaria pior ainda.
Logo que deixaram o apartamento uma chuva começou, o que aumentava os pensamentos medrosos dela, afinal chuva significava que os vidros do carro ficariam fechados, a possibilidade de acidente era maior e estavam prestes a subir a serra. E mesmo quando sentia-se bem e tinha sol, a serra já era sinal de perigo para ela.
Enquanto o carro subia a serra ela deixou a vidro um pouco aberto, todo o ar era pouco para seus pulmões espremidos, as lágrimas vinham aos olhos só que ela fazia de tudo para não derruba-las, para suas primas e sua tia não ficarem preocupadas, então colocou a mão debaixo do travesseiro que trazia no colo e começou a rezar incessantemente.
De repente ela olhou para o lado, naquele trânsito todo para descer a serra vinha uma ambulância, e os pensamentos ruins vieram de novo: E se alguém muito ferido estiver lá? A ambulância não chega a tempo! E então eu não posso passar mal aqui.
Fechou os olhos, forçou a respiração, certificou-se de que o coração ainda estava batendo, e rezou mais ainda, até que acabou a serra, acabou a viagem, e ela estava em casa.
Era ilusão achar que tudo iria melhorar, a ânsia persistia, a sensação de que iria cair a qualquer momento, o medo de morrer, a difícil respiração, o coração que parecia parar, a visão embaçada. Tudo piorava constantemente. Na primeira semana mal se alimentava, não conseguia comer doces, perdeu 5 quilos, e só queria saber de dormir.
Tinha medo de sair de casa e passar mal sem que alguém conseguisse socorre-la a tempo, sempre que via uma ambulância ou ouvia sirene começava a tremer. Além de todo o mal estar começou a ter dores pelo corpo, nas costas, no pescoço.
Foi no plantão medico um dia, o médico mal examinou-a e disse que era apenas um mal-jeito, deu um relaxante muscular. As dores persistiram, o mal estar persistiu, o coração ainda estava parando! Já fazia 2 semanas!
Voltou ao plantão médico dias depois, outro remédio para dor, e nenhum resultado!
Ela faria qualquer coisa, centro espírita, candomblé, ervas medicinais, acupuntura. Queria se livrar de tudo aquilo, queria ser normal novamente, queria sair com os amigos e rir.
Outra vez foi ao plantão médico, dessa vez ele deu um calmante e colocou-a em um balão de oxigênio já que reclamava de falta de ar. Enquanto ela estava lá deitada começou a cochilar, e então acordava assustada, achava que se continuasse dormindo morreria. Assim que melhorou a respiração o médico chamou sua mãe e disse: Leve ela em um psiquiatra!
Psiquiatra? Aquele médico era louco? Porque ela não estava louca.
Como aceitava qualquer coisa, ela foi ao psiquiatra, e ele diagnosticou depressão e sindrome do pânico. Deu os remédios necessários, e além deles, ela tinha a família e os amigos do lado. E então o coração parecia estar melhor, os pulmões voltaram ao normal, as dores foram sumindo. E ela sobreviveu!
...
Abriu os olhos ainda sentada na poltrona do ônibus e respirou aliviada, depois daquele começo de ano agitado ela tinha conseguido sobreviver, e estava em um novo ano, ela teve apoio de pessoas que amavam ela, então sabia que a distância não iria diminuir o amor que tinha pelas pessoas e que as pessoas tinham por ela. A vida dela mudaria, mas seria para melhor, e tranquilizou-se, os medos se foram, e se deixou ser tomada por aquele sentimento bom de superação, de conquista e de amor.
O que quer que viesse pela frente ela teria força pra superar, e ela teria ajuda das melhores pessoas!

Um comentário:

  1. "Mari os sentimentos que possuimos nos mostram o quanto humanos somos,e senti-los mostra que você é uma pessoa ainda em jornada numa vida de prazers, e, infelizmente tristezas!Mais em contrapartida existem seus amigos e familiares que estão sempre prontos a ajuda-la a superar as barreiras que a vida impõe, te lembrando assim que você nunca estara sozinha, e que medos e incertezas, apesar dos nomesnão devem ser temidos, e sim superados, e como você mesma sabe sua pericia em supera-los é formidavél^^!"

    Um grande beijo Mari e se cuida tá^^!

    ResponderExcluir