quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Melhores amigas

Meu nariz não estava mais acostumado ao ar poluído de Americana e queimava, minhas pernas chacoalhavam freneticamente com a impaciência em esperar um ônibus, e o frio arrepiava os pelos do meu braço. Fazia tempo que eu não visitava Americana e mais tempo ainda que eu não pegava um circular naquela cidade.
Já era noite, a rua estava totalmente vazia e, para ajudar, o poste que era responsável por iluminar o ponto de ônibus estava apagado.
Meus olhos percorriam toda a extensão da rua, meu pescoço virava-se rapidamente de um lado ao outro, minhas mãos percorriam meus braços afim de esquenta-los, e as pernas continuavam a chacoalhar no seu ritmo frenético. Então, eu avistei um vulto que virava a esquina e vinha em direção ao ponto do ônibus. Isso me trouxe paz, que até as pernas se aquietaram. Eu detestava ficar sozinha.
O vulto foi se aproximando e trazendo mais paz, porque era alguém conhecido, ou pelo menos eu achava que conhecia. A luz do poste foi acendendo, e fracamente iluminou o vulto, os cabelos longos e escuros eram bagunçados pelo vento, e aqueles olhos castanhos por debaixo do óculos eram familiares.
O vulto transformou-se em pessoa, chegou finalmente ao ponto do ônibus e sentou-se ao meu lado. Por um momento pensei que eu estava confundindo a pessoa com alguém, porque ela mal olhou para mim, não deu um sorriso e nem acenou. Então comecei a olhar atentamente, a estatura era a mesma, o jeito de sentar, as roupas com o mesmo estilo de antes, ela não havia mudado em nada, e eu também não, pelo menos acreditava que não, por isso era difícil acreditar que não havia me reconhecido.
Neste momento olhei para o poste, e pensei que o motivo poderia ser a pouca luz, e veio a ideia de conversar com ela, assim ela reconheceria. Limpei a garganta, passei a língua pelos lábios, e disse:
- Olá!
Demorou para perceber que eu estava falando com ela, olhou para os lados, admirou a fraca luz do poste, e então respondeu.
- Ah, olá. Me desculpe, não notei que falava comigo.
Eu abri um sorriso, era muito bom ouvir aquela voz amiga, que tantas vezes tinha me consolado, me feito rir, me dito palavras de carinho e de amor.
- Como você está? - tentei prosseguir a conversa
- Estou bem, obrigada.
A conversa foi interrompida por ela, não quis prosseguir, não perguntou como eu estava. Talvez ela não estivesse muito bem, não quisesse conversar. Virei meu rosto para o outro lado da rua, vendo se meu ônibus não vinha, e decidi esquecer a presença dela, que se antes me trouxe paz, agora aumentava o frio.
Mas, ela pareceu notar a tristeza fixando-se em minha face, e continuou a conversa:
- E você, como está?
- Bem. - Se ela sabia ser fria, eu também sabia, e parei nisso.
Minhas pernas voltaram a se mexer num ritmo descompassado e rápido, minhas mãos estavam inquietas procurando aquecer meus braços, e minha cabeça percorria toda a extensão da rua, com a esperança de que meus olhos vissem o ônibus.
Ficamos em silêncio, cada uma com sua reação corporal, com sua respiração calma, sem olhar diretamente uma para a outra. E passado alguns minutos, meus olhos avistaram o ônibus que eu precisava pegar.
Levantei-me, e dei sinal para o ônibus. Olhei pela ultima vez para ela e disse:
- Passar bem!
Ela levantou os olhos e me encarou:
- Me desculpe, mas quem é você?
A sensação era como se alguém tivesse socado meu estômago, um calor tomou conta do meu rosto e lágrimas escorreram da minha face. Ela realmente não se lembrava de mim. Antes que eu pudesse refrescar-lhe a memória o ônibus estava parado, esperando o meu embarque, e antes que eu entrasse respondi:
- Você costumava me chamar de melhor amiga.


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