terça-feira, 19 de outubro de 2010

Viagem

A rodovia era iluminada apenas pelo farol do ônibus e dos poucos carros que por ela transitavam. Já era noite, uma garoa fina molhava a pista, grande parte dos passageiros dormiam, e a viagem seguia.
Um carro escuro seguia o ônibus. É normal carros fazerem a mesma rota. Só que este começou a acelerar, se emparelhou ao ônibus, e abaixou o vidro:
- Conduz pro lado, conduz pro lado, lá pro caminho de terra no meio da cana. - Disse uma voz masculina de dentro do carro.
As mãos do motorista tremiam no volante, suava frio, o coração acelerou e seus olhos marejaram de lágrimas. Levava com ele quarenta passageiros. Se fosse pro caminho de terra, essas quarenta pessoas teriam seus bens furtados, porém, se não conduzisse, levaria um tiro na cabeça e perderia o controle do ônibus, e as pessoas perderiam a vida.
Oscilava entre um pensamento e outro, evitava olhar para o lado de fora, para não tremer ainda mais vendo a arma apontada em sua direção.
Alguns dos passageiros acordaram com a voz que ameaçava o motorista, e nos seus bancos temiam, temiam por perder seus bens, temiam por perder suas vidas. Temiam calados.
E então, um farol veio de encontro ao ônibus e ao carro dos bandidos, um farol alto de um carro que zigue-zagueava, de um carro que vinha na contra mão. A velocidade era muito alta, em segundos o carro se aproximou e não deu tempo para que nenhum motorista desviasse do choque.
Na hora que ia chocar-se, o carro jogou para a esquerda, atingindo o carro dos ladrões em cheio, sem esperança alguma de ter restado vida a alguém.
Suspiros aliviados eram ouvidos dentro do ônibus, por mais que a desgraça do lado de fora havia sido enorme, a vida dos quarenta passageiros estava salva. Os corpos relaxavam nos bancos, as mãos do motorista paravam de tremer e seu coração tentava voltar ao ritmo normal.
A rodovia voltara a ser iluminada apenas pelo farol do ônibus e dos poucos carros que por ela transitavam, com exceção das luzes do carro da polícia e das ambulâncias que ficavam para traz, até não serem mais notadas. Já era noite, uma garoa fina molhava a pista, grande parte dos passageiros dormiam, e a viagem seguia.

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