sábado, 10 de outubro de 2009

Finais Infelizes II - Bela Adormecida

Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha jovens, poderosos e ricos, mas pouco felizes, porque não tinham concretizado o maior sonho deles: terem filhos.
Não se alegravam nem com os bailes da corte, nem com as caçadas, e em todo o castelo reinava uma grande melancolia.
Mas, numa tarde de verão, a rainha foi banhar-se no riacho que passava no fundo do parque real. E, de repente, pulou para fora da água uma rãzinha.
— Majestade, não fique triste, o seu desejo se realizará logo: Antes que passe um ano a senhora dará à luz uma menina.
E a profecia da rã se concretizou, meses depois a rainha deu a luz a uma linda menina.
O rei, que estava tão feliz, deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa que se chamava Aurora.
Convidou uma multidão de súditos: parentes, amigos, nobres do reino e, como convidadas de honra, as treze fadas que viviam nos confins do reino. Mas, quando os mensageiros iam saindo com os convites, o camareiro-mor correu até o rei, preocupadíssimo.
— Majestade, as fadas são treze, e nós só temos doze pratos de ouro. O que faremos? A fada que tiver de comer no prato de prata, como os outros convidados, poderá se ofender. E uma fada ofendida…
O rei refletiu longamente e decidiu:
— Não convidaremos a décima terceira fada — disse, resoluto. — Talvez nem saiba que nasceu a nossa filha e que daremos uma festa. Assim, não teremos complicações.
Partiram somente doze mensageiros, com convites para doze fadas, conforme o rei resolvera.
No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso. Uma ofereceu beleza, outra um caráter justo, riquezas enormes, um coração caridoso, inteligência elevada.

Faltava apenas a décima segunda fada para dar seu presente, quanto a décima terceira entrou no palácio, totalmente furiosa porque não havia sido convidada, se aproximou do berço da princesa e deu o seu presente:

- Aos quinze anos a princesa vai se ferir com o fuso de uma roca e morrerá!

E foi embora, deixando os reis e os convidados desesperados e incrédulos.
Então aproximou-se a décima segunda fada, que devia ainda oferecer seu presente.
— Não posso cancelar a maldição que agora atingiu a princesa. Tenho poderes só para modificá-la um pouco. Por isso, Aurora não morrerá; cairá em sono profundo, até a chegada de um príncipe que a acordará com um beijo.
Passados os primeiros momentos de espanto e temor, o rei decidiu tomar providências, mandou queimar todas as rocas do reino. E, daquele dia em diante, ninguém mais fiava, nem linho, nem algodão, nem lã. Ninguém além da torre do castelo.
Aurora crescia, e os presentes das fadas, apesar da maldição, estavam dando resultados. Era bonita, boa, gentil e caridosa, os súditos a adoravam.
No dia em que completou quinze anos, o rei e a rainha estavam ausentes, ocupados numa partida de caça. Talvez, quem sabe, em todo esse tempo tivessem até esquecido a profecia da fada malvada.
A princesa Aurora, porém, estava se aborrecendo por estar sozinha e começou a andar pelas salas do castelo. Chegando perto de um portãozinho de ferro que dava acesso à parte de cima de uma velha torre, abriu-o, subiu a longa escada e chegou, enfim, ao quartinho.
Ao lado da janela estava uma velhinha de cabelos brancos, fiando com o fuso uma meada de linho. A garota olhou, maravilhada. Nunca tinha visto um fuso.
— Bom dia, vovozinha.
— Bom dia a você, linda garota.
— O que está fazendo? Que instrumento é esse?
Sem levantar os olhos do seu trabalho, a velhinha respondeu:

— Estou fiando!
A princesa, fascinada, olhava o fuso que girava rapidamente entre os dedos da velhinha.
— Parece mesmo divertido esse estranho pedaço de madeira que gira assim rápido. Posso experimentá-lo também? - Sem esperar resposta, pegou o fuso. E, naquele instante, cumpriu-se o feitiço. Aurora furou o dedo e sentiu um grande sono. Conseguiu ainda dar alguns passos e deitou-se na cama que havia na torre.

A velhinha ficou maravilhada, e foi embora da torre sem ninguém vê-la.

Os reis chegaram da caçada e procuraram por Aurora em todos os lugares da casa, gritavam por seu nome, e nenhuma resposta vinha. Separaram alguns soldados do reino e mandaram ir verificar a floresta, enquanto um grupo de súditos procurava pelo castelo.

Uma cozinheira viu o portão que dava acesso à torre aberto e decidiu subir até lá, quando achou a princesa deitada e viu a ponta de seu cedo sangrando deu um grito desesperador, que fez todos os soldados do bosque voltarem e todos os súditos se dirigirem a torre.

- Ah minha pequena Aurora! Como isso foi acontecer? Eu não devia ter deixado nenhum fuso inteiro, nem mesmo aqui dentro. Como fui um ignorante. – chorava o rei debruçado sobre a sua filha.

- Calma alteza, só precisamos de um príncipe que a desperte. Lembra? Foi isso que a décima segunda fada disse no aniversário. – lembrou-o um súdito.

E então o rei começou a convocar todos os príncipes para irem ao castelo. E a princesa cada vez ficava mais pálida, a temperatura de seu corpo estava elevadíssima, seu dedo não parava de sangrar totalmente, e estava inchando cada vez mais, quase se assemelhando a um tomate.

Uma fila enorme havia fora do castelo, e muitos príncipes e falsos príncipes beijavam a princesa, sem nenhum resultado. Então apareceu um lindo rapaz, só que um falso príncipe, na verdade ele era filho de um curandeiro do reino vizinho. Quando ele entrou no quarto e viu a princesa e seu dedo machucado disse ao rei:

- Majestade mas isso não é feitiço. Isso é uma doença. Ela machucou o dedo e precisa de cuidados, de ervas e chás e uma limpeza no machucado.

O rei mandou que levassem o rapaz embora, porque ele estava brincando com os sentimentos de dor da família real. O rei não imaginava que o pobre moço estava certo.

Passado mais alguns dias e mais de cem príncipes o rei já estava desistindo, e acreditando que nunca veria sua filha acordada novamente. Então um príncipe bonito, novo e destemido entrou na torre, e quando foi beijar a princesa sentiu-a gélida, e percebeu que ela não mais respirava. Saiu da torre de cabeça baixa e deu o aviso ao rei:

- Alteza, sua filha não respira mais e esta gelada como mármore!

O rei e a rainha subiram as escadas desesperados e confirmaram o que haviam ouvido. Mandaram chamar a décima segunda fada.

- O que aconteceu? Você não havia desfeito o feitiço?

A pobre fada não sabia responder ao rei, sua mágica nunca tinha sido falha de tal modo. Então, por ordem do rei ela foi mandada ao calabouço e nunca mais poderia praticar feitiços e mágicas em sua vida.

E a jovem princesa, que morrera vitima de uma infecção quando furou o dedo, que poderia ter sido salva pelo falso príncipe curandeiro, foi enterrada nos fundos do castelo, para a alegria da décima terceira fada e a tristeza eterna de toda a família real e os habitantes do reino.

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