sexta-feira, 18 de março de 2011

Monstro...

Milhares de vozes ecoam ao fundo, vozes conhecidas, alegres, alteradas, nervosas, altas, baixas, sussurros! Nenhuma voz chega perto de mim, elas rodeiam, e não param nunca, elas não se calam para me ouvir.
As mãos tremem, se agarram fortemente a superfície sólida da carteira para tentar evitar o tremor, em vão.
A visão embaçada percebe a chegada do monstro. Sua silhueta surgi na porta, e aos poucos as vozes se calam. Ele não é maior que um homem, tem duas pernas, dois braços, apenas uma cabeça, com dois olhos, um nariz e uma boca. Ele é um humano!
Falta o ar, o coração parece que está parando, os olhos só sabem chorar.
Não, a culpa não é do que acabou de chegar. Eu disse monstro? Era apenas o professor entrando na sala.
O monstro mora dentro de mim, ele não sai, ele não quer ir embora. Eu peço, eu imploro, eu choro o dia todo. Ele insiste.
Não sei como ele é, nem se tem corpo, nem se ele existe, ou eu criei. Não tomo alucinógenos, não preciso dele pra criar as ilusões das minhas dores e do meu desespero.
Choro, ouço as vozes longe, temo o monstro.
Quando ele vai me tomar por completa? Quando ele vai me enlouquecer de vez?
Já me vejo numa camisa de força, homens com braços fortes me agarrando, um prédio branco, enfermeiros, médicos, agulhas, remédios. Loucura total!
- Vai embora, por favor!
Imploro novamente, tento focar a atenção no homem que fala para sala, tento fazer as vozes se aproximarem, quero enxergar perfeitamente, quero respirar.
- Por favor, desamarre os meus pulmões!
Não, ele não desamarra, ele aperta mais. Ele faz a visão ficar pior, e aumenta o medo, a angustia, a vontade de chorar.
E eu sei que ele não morre, talvez eu possa fazê-lo dormir, eu já fiz isso uma vez, há dois anos, e ele dormiu até alguns meses atrás. Sim, se eu acreditar em mim eu posso fazer. Porém é difícil combater aquilo que você não vê. É difícil explicar pra todo mundo que a culpa é desse monstro. As pessoas não acreditam, acham que eu tenho frescura, que eu estou fazendo cena, que eu exagero. Mas elas são maldosas em pensar assim, elas não veem que eu quase enlouqueço com o monstro?
Você acha que é fácil pra uma garota de 19 anos assumir a sua loucura? Ouvir do médico que ela precisa ir ao hospital psiquiátrico?
Pra uma criança é legal ter um amigo invisivel, mas pra uma jovem é horrível ter um inimigo invisível.
Preciso da minha mãe, ela acredita em mim, ela conhece o monstro, e eu sei que ela me ajuda a fazer ele dormir, mas minha mãe está longe. Meu pai também, e meu irmão, meu namorado, minha família. Distantes!
Lembro da música de ninar: "Dorme neném que a cuca vem pegar, papai foi na roça, mamãe foi trabalhar"
Tenho a impressão de que fui um neném desobediente, eu não dormi então a cuca me pegou. Mas a cuca não parecia tão má assim no Sitio do Pica Pau Amarelo.
Depois o doutor me diz que não é a Cuca que me pegou, foi o Pânico, é assim que chama o monstro. Ele não veste uma capa preta e uma mascara branca com uma boca ''aberta'' enorme. Ele domina a minha mente, traz reações ao me corpo, tira a minha vontade de comer, de sair, de estudar, de levantar da cama.
Grito. Choro. Peço ajuda.
EU QUERO VIVER!
Algumas pessoas me ouvem, se aproximam, percebem o meu estado e acreditam em mim. Elas não veem o monstro, mas são meus amigos, e tentam me ajudar. Eles fazem o monstro dormir. Ufa, eu posso respirar, comer e rir.
Pode ser que daqui algumas horas o monstro acorde, ou daqui semanas, meses, anos. Espero que nunca mais. Eu só quero PAZ!